quinta-feira, 17 de julho de 2008

Quem sabe uma primavera?

Eu também preciso de uma lobotomia
Tábula rasa, novamente, nova mente
Apagar todos os comentários destrutivos de papai e mamãe
Esquecer a dor pungente da minha carne sagrada ser trocada pela alcatra suja da esquina
Eu esqueço isso a cada novo dia
(Não) sou a dor
(Não) quero me identificar com ela
E lá vem ela: (não) me deixa
Tremo todo. Lágrimas que tremem e (não) escorrem.
Ah se ao menos eu pudesse respirar
(Não) posso ver porque desejo
(Não) posso dizer porque machuco
(Não) posso ouvir porque choro
(Não) posso cheirar porque (Não) respiro
Congelo: com a sensação de que gostaria que fosse para sempre
Ai desse coração repetidamente congelado querer arder de amor.
Ai dele.
Quem sabe uma primavera?
Nunca um verão.
Se eu pudesse ao menos cheirar as flores...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

"For even the smallest zero is a great hole of nothingness, a circle large enough to contain the world"
in 'The Music of Chance', by Paul Auster

segunda-feira, 7 de julho de 2008

1 minuto de suspiro e lágrima

Me pego constantemente gastando meu tempo sem perceber. São horas e dias que se passam e nos quais eu apenas respiro. Teço essa manta de ar constantemente e já deve ter kilometros de extensão. E no entanto lá se foi o 7 de julho de 2008, por exemplo. Não foi um dia memorável. Exceto por um minuto de suspiro e lágrima que foi apenas uma promessa de nascente de rio - que não quis correr.
O resto do dia foi como todos os outros dias: vida comum de uma ordinariedade grossa que se satisfaz com o grande nada que é. Grande nada, pequenas muitas coisinhas.
A vida é um brique-braque. Um lego de coisas tolas. E quando você vê, sua vida foi feita de todas essas coisas absolutamente medíocres, como cada momento em que se respira, salpicada de eventos não-ordinários: uma conversa, uma cena, uma tragédia. Preferimos chamar esses eventos não-ordinários de vida, mas a vida mesmo é feita dos outros momentos.
Nós somos bobos e gostamos de dar um rótulo diferente pras coisas - é a diferença pela diferença. É o ego das coisas. As coisas também querem ser diferentes. Elas também são bobas.
Para o sujeito demasiadamente contemporâneo essa direção de vida chama-se derrota. Na contemporaneidade, uma vida sem abundância de rótulos no dia-a-dia é uma vida que não vale a pena ser vivida, é a vida de um perdedor - Loser. Mas quem perde mesmo é o sujeito contemporâneo que reduz sua VIDA a dias, e os DIAS a acontecimentos, e os ACONTECIMENTOS a rótulos que nem de perto descrevem suas complexidades.
Pois eu lhes digo: esse 1 minuto de suspiro e lágrima foi provavelmente o momento mais simples e vazio do meu dia. Foi o único momento com foco. Eu sabia o porquê do suspiro e o porquê da lágrima.
Nos outros momentos tudo era tão complexo... eu respirava, sem saber o porquê; meu cérebro evocava pensamentos aparentemente sem conexão; minhas vísceras funcionavam à própria revelia; meus sentidos captavam estímulos tão complexos que eu jamais poderia colocar em palavras, tudo assim ao mesmo tempo, coordenados eu nem sei como, pura mágica.
E ainda assim, decidi resumir meu dia - e meu post - pelo seu momento mais tolo e mais simples.
É que tolo e simples sou eu.