segunda-feira, 10 de novembro de 2008

la llorona

jovem - preto - pobre - cadeira-de-rodas - pernas finas
sozinho - se esforçando pra subir a rampa da calçada
força
esforço
impulso de ajudar - vi que ele nem sequer pedia - nem sequer olhava
acostumado ao esforço solitário
continuava
empurra a propria cadeira nas calçadas esburacadas do centro do rio na hora do rush

entrei nessa realidade por segundos
pessoa que sou -sem parâmetros pra essa adversidade
daí - invadido pelo excesso - tela de lágrimas diante dos olhos

Não importa o que sinto: ele ainda propulsiona a própria cadeira-de-rodas pelas ruas esburacadas.
Sonho acordado com uma realidade em que eu o teria ajudado. E juntos sorriríamos enquanto eu empurrasse sua cadeira, sem titubear, para onde quer que ele quisesse/precisasse ir e sem que eu quisesse/precisasse ir a lugar algum de minha parte.

Talvez ele fosse um imbecil e simplesmente me xingasse se eu quisesse ajudá-lo.
Talvez o imbecil seja eu, de querer ajudá-lo.
Ajudar uma pessoa que obviamente está muito mais escolada em enfrentar as dificuldades da vida do que eu.
Talvez seja só a vida dizendo - siga.