Ele escolhia suas vítimas de acordo com suas datas de nascimento. Procurava alguém do mês de julho. Escolheu aquele com ares de sonhador - sonhos de salvador dali. Relógios derretidos, crucificações 3-d e freudismo.
Aproximou-se com um bombom recheado de licor de cereja e disse "O licor do bombom é o 'como se...' do doce sangue dos sonhos". Encantou-se o sonhador com o simbolismo certeiro, que ecoou em todo o seu ser, ressoando como amor encontrado em realidade. Pura sorte, porque pura enganação. No momento seguinte estava em seus braços, peito aberto, coração pulsante - pronto para amar. Amou.
Vendo toda a mágica daquela vida fabulosa comprimida num peito, o assassino, indiferente ao mecanismo da mágica ou egoísta querendo-a para si, cravou sua mão direita no corpo - real - e retirou para si aquele coração - irreal - enquanto acariciava as costas de sua vítima com a mão esquerda.
Ao perceber que naquele coração só havia mágica enquanto havia sonho, largou-o, oco. Deixou-o para os pombos comerem. O corpo sabe-se lá quem comeu.
Paralisou-se para sempre com tamanho atordoamento. A vítima do mês de julho foi a sua última.
Aproximou-se com um bombom recheado de licor de cereja e disse "O licor do bombom é o 'como se...' do doce sangue dos sonhos". Encantou-se o sonhador com o simbolismo certeiro, que ecoou em todo o seu ser, ressoando como amor encontrado em realidade. Pura sorte, porque pura enganação. No momento seguinte estava em seus braços, peito aberto, coração pulsante - pronto para amar. Amou.
Vendo toda a mágica daquela vida fabulosa comprimida num peito, o assassino, indiferente ao mecanismo da mágica ou egoísta querendo-a para si, cravou sua mão direita no corpo - real - e retirou para si aquele coração - irreal - enquanto acariciava as costas de sua vítima com a mão esquerda.
Ao perceber que naquele coração só havia mágica enquanto havia sonho, largou-o, oco. Deixou-o para os pombos comerem. O corpo sabe-se lá quem comeu.
Paralisou-se para sempre com tamanho atordoamento. A vítima do mês de julho foi a sua última.
Um comentário:
Oh, mais uma vítima do Birthday Killer... quando essas mortes terão fim?
Como uma homenagem póstuma, permitam-me dizer que o morto em questão era pessoa honrada e digna, cuja voracidade libidinal era plena de afetação, ou seja, possuía plena capacidade de ser afetado, tocado pelo outro...
O morto buscava o contato, o olhar, a surpresa, o calafrio, buscava, enfim, buscava o outro, tanto quanto buscava a si mesmo...
O morto tinha plena consciência de sua fragilidade e precariedade existencial, e da diversidade fora de nós que não controlamos, o que lhe fornecia a força e os valores que o enriqueciam e o dignificavam, enquanto viveu; e que ainda o dignificam, agora que está morto...
O morto com certeza, não viveu em vão. Ele buscou e teve uma vida interessantíssima, enquanto viveu. E, acima de tudo, uma vida íntegra e digna, algo que nenhum assassino mequetrefe jamais poderá tirar dele...
Pois esse assassino se engana, e não fico surpreso pelo erro, pois esse assassino, e outros assassinos como esse, não têm a capacidade de alcançar o que é viver com dignidade, bravura e grandiosidade, dos baixios do deserto existencial onde sobrevivem em seus horrorosos estilos de vida, vida nua e besta... Não entendem que o coração arrancado e jogado fora jamais trará a solução mágica para seu vazio absoluto e horroroso, nem sequer trará a atenção e notoriedade ansiada... esse assassino ficará desde sempre largado, esquecido e ignorado, a um limbo qualquer, num deserto cinza desprovido de sentido existencial, mas pleno de horror... Horror, pois o assassino já está morto, desde sempre, mas esta sim, uma morte em vão, sem dignidade, em vida, sem paz, sem cova, sem nada... dead man walking...
A morte daquele que foi predado em questão não foi em vão, absolutamente... Ainda teremos sua dignidade e intensidade, para que possamos continuar a nos tocar e nos ver... Através de sua morte, e de como viveu, valorizaremos ainda mais a nossa vida...
Descanse em Paz
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