segunda-feira, 10 de novembro de 2008

la llorona

jovem - preto - pobre - cadeira-de-rodas - pernas finas
sozinho - se esforçando pra subir a rampa da calçada
força
esforço
impulso de ajudar - vi que ele nem sequer pedia - nem sequer olhava
acostumado ao esforço solitário
continuava
empurra a propria cadeira nas calçadas esburacadas do centro do rio na hora do rush

entrei nessa realidade por segundos
pessoa que sou -sem parâmetros pra essa adversidade
daí - invadido pelo excesso - tela de lágrimas diante dos olhos

Não importa o que sinto: ele ainda propulsiona a própria cadeira-de-rodas pelas ruas esburacadas.
Sonho acordado com uma realidade em que eu o teria ajudado. E juntos sorriríamos enquanto eu empurrasse sua cadeira, sem titubear, para onde quer que ele quisesse/precisasse ir e sem que eu quisesse/precisasse ir a lugar algum de minha parte.

Talvez ele fosse um imbecil e simplesmente me xingasse se eu quisesse ajudá-lo.
Talvez o imbecil seja eu, de querer ajudá-lo.
Ajudar uma pessoa que obviamente está muito mais escolada em enfrentar as dificuldades da vida do que eu.
Talvez seja só a vida dizendo - siga.

6 comentários:

Banana-split Lady disse...

q coincidência. meu namorado outro dia mesmo foi solicitado na rua por uma mulher de cadeira de rodas para que ele a empurrasse....

então, eu entendo bem o q vc quer dizer.
mas acho q vc está se subestimando. você também tem muita força interna e usa ela todo dia pra enfrentar problemas diferentes do carinha.

Enfim, dá um beijo no seu gato peludo pra mim. xD
Hahaaha
Adorei ele demais!

Urania disse...

apesar da força interna, eu não sei onde ela está. você sabe? ainda não achei a minha, então não posso ajudar...

la llorona... disseram q essa minha alergia sou eu chorando por dentro. não tenho mais cds de chorar. não sei mais chorar. e preciso, preciso tanto. talvez vc também precise. ;*

Felipe disse...

Mas você podia ajudar o cara e continuar fazendo as suas coisas.
Querer se redimir da sua falta de urbanidade não é bom sinal.É sinal de que você desconheça seus propósitos e desconheça aquele cadeirante. É provavel que ele não esteja nem aí para que você o veja como um ser humano. Ele pode ter já quem o veja como semelhante. E pode viver feliz num mundo onde a indiferença alheia não o prejudique. Você pode ainda escrever uma carta pra prefeitura reclamando que em trecho tal, na rua tal um cara não conseguiu se deslocar porque estava na cadeira de rodas. Agora se o cara é mais escolado nas dificuldades da vida vc pode pedir que ele te ensine a andar de cadeira de rodas se algum dia vc precisar.

Ricardo Freitas disse...

continua ótimo por aqui!!!!

Felipe disse...

Mas enfim, se vc ficou com pena, pense que neste mundo da multiplicidade, de respeito às diversidades,etc um aleijado precisa de um "espaço vital" e isso exige esforço, trabalho e, porque não dizer - eu vou dizer - esse palavrão, que se foda, exige poder. Tudo isso muito mais do que a sua compaixão que como já disse - pode ser dispensável, inútil, desnecessária.
Mas andar de cadeira de rodas é muito menos exaustivo que andar em pé. Experimente. É muito bom.hahahahaha!!!!!!

Anônimo disse...

... e você não ajudou??

A necessidade de ajudar não me permite pensar( ), é mêcanico e imediato.