sábado, 16 de junho de 2007

Estava escrito nas estrelas - ele seria meu...

O tema dessa semana é a predestinação - palavrinha muito polêmica, ainda mais nessas eras de "O Segredo" em que as pessoas acham que podem conseguir um diamante simplesmente por imaginá-lo e se pensarem dignas de possuí-lo. Bobinhas. Se todos realmente se achassem dignos de diamantes, de onde sairiam 6 bilhões de pedrinhas? Nesse ponto, concordo com Fiona Apple, que disse "I don't understand about diamonds, and why men buy them; what's so impressive about a diamond, except the mining work?" (Red red red) - algo como "Não entendo sobre diamantes, e por que os homens os compram; o que é tão impressionante nos diamantes, exceto o trabalho de mineração?".
Mas estou me delongando e quase associando livremente. Não é nesse sentido que eu desejo ir com X-ego nesse momento. Voltemos à predestinação.

Eu o encontrei, no dia dos namorados: meu resfriado. Foi mágico, mas no momento que eu o vi, eu sabia que ele seria meu. Pode-se dizer que foi amor à primeira vista. Vou contar-lhes a história:
Estava eu voltando de uma apresentação de trabalho de teoria psicanalítica sobre as produções do inconsciente, o ponto em que a função do sonho falha, o funcionamento pulsional, etc. Andei leve até o metrô, para escapar do trânsito e do confinamento insalubre do coletivo. Entrei na plataforma subterrânea e procurei a faixa menos cheia. Esperei.
Foi nesse momento em que ele chegou - gordo, feio, mal-vestido e tossindo uma tosse catarrenta. Pensei comigo mesmo "Ave Maria Cruz Credo... xô de mim!!" - e olha que eu nem sou católico. Ao abrirem-se as portas do coletivo, fui no sentido contrário ao dele, apesar da grande confusão de pessoas, apitos e estresses, tentando sentar o mais longe possível daquela fonte jorrante de microorganismos. Qual não foi minha surpresa quando ele se virou, andou na minha direção e sentou-se naquele lugar - sim, o único que estava vago - ao meu lado. Todos os lugares já haviam sido tomados e, na estação seguinte, o metrô já estava completamente lotado. Eu não tinha escapatória: foram 40 minutos de tentativas de prender a respiração a cada vez que ele tossia, aquela tosse catarrenta cheia de germes, balançando suas banhas e suando grosso. Ao final do trajeto, eu já me sentia quente, cansado. Sabia que ele já era meu.

O meu horror maior era saber que aqueles germes que habitavam aquele corpo asqueroso estavam, a partir daquele momento, fazendo parte também do meu. É engraçado como o que diferencia se os germes são bons ou ruins é o hospedeiro. Quando uma pessoa bonita tosse, ou espirra, você até se dispõe a aspirar aqueles microorganismos todos, absorver parte daquele todo belo. Mas a feiura é tão atraente quanto a beleza. Nosso olhar é atraído por ambas igualmente. É como se tentássemos desvendar qual é o mistério por trás de tanta fealdade. E por me deter, por todos aqueles infindáveis minutos, naquele ser nojento e me sentir estranhamente atraído por sua asquerosidade, eu a absorvi em parte, e decidi: esse resfriado é meu.

Quem mandou eu falar em produções do inconsciente né?!

*assoa o nariz*