Eu sei que eu estou há séculos sem escrever. Uma amiga me chamou a atenção para a data do meu último texto - o carnaval. Ela me perguntou se o próximo seria no natal e eu resolvi que era hora de entrar em ação, mesmo porque o momento é propício: terminei com minha analista (uma relação de quase 2 anos de duração).
Então o tema da semana é o AMOR. Sim, porque foi quando o amor apareceu em minha vida que eu parei de escrever e, agora, quando o amor de transferência se estancou, eu voltei. Curioso? Talvez para a maioria das pessoas sim; eu acho absolutamente compreensível. COF-COF.
Outro dia ouvi alguém dizendo que escrevia para conseguir um marido e que quando conseguiu parou de escrever também. Os lacanianos talvez compreendam melhor do que ninguém as circunstâncias que levam alguém a encher o buraco do amor com palavras. "Buraco do amor" é uma expressão interessante, aliás... porque em todos os sentidos é isso que é mesmo - um buraco negro (EITCHA!!) que suga todo tipo de projeções, sonhos, desejo e depois te lança no não-conhecido.
Oh, vida; oh, céus; oh, azar.
E pelas dificuldades de saber o que o amor representa em nossas vidas e compreender suas vicissitudes, surge a psicanálise. E com ela o "amor de transferência". Será o mesmo tipo de amor? Outro dia ouvi alguém perguntar por que é que se dava o nome de 'amor' à transferência. Isso me irritou e eu ão sei nem ao certo o porquê. Só sei que irritou e pronto. E aí, logo depois, alguém muito interessante, falava de demanda, e a impossibilidade de se atender à demanda, mesmo que se tente. E eu fiquei orgulhoso de mim mesmo por ter desafiado a negação de atendimento de qualquer demanda, presentificada pela personificação da cristalização das emoções do método lacaniano. Ela funciona como a Medusa: se você a olha nos olhos, vira pedra. E eu decidi que eu não queria virar pedra. Chega de desamparo. Já me basta o amor - buraco negro de qualquer amparo e, ainda assim, ilusoriamente, o tamponamento do mesmo. Coisa doida né?
Poisé. O amor é assim, louco. E assim somos nós, os que amamos, loucos. Nós, os que estancam, loucos. Nós, os que vivem - loucos. De pedra. Ou tentando não ser de pedra. Ainda assim, loucos.
E isso é só o amor. Nem pensemos no resto.
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Há 11 anos