Me pego constantemente gastando meu tempo sem perceber. São horas e dias que se passam e nos quais eu apenas respiro. Teço essa manta de ar constantemente e já deve ter kilometros de extensão. E no entanto lá se foi o 7 de julho de 2008, por exemplo. Não foi um dia memorável. Exceto por um minuto de suspiro e lágrima que foi apenas uma promessa de nascente de rio - que não quis correr.
O resto do dia foi como todos os outros dias: vida comum de uma ordinariedade grossa que se satisfaz com o grande nada que é. Grande nada, pequenas muitas coisinhas.
A vida é um brique-braque. Um lego de coisas tolas. E quando você vê, sua vida foi feita de todas essas coisas absolutamente medíocres, como cada momento em que se respira, salpicada de eventos não-ordinários: uma conversa, uma cena, uma tragédia. Preferimos chamar esses eventos não-ordinários de vida, mas a vida mesmo é feita dos outros momentos.
Nós somos bobos e gostamos de dar um rótulo diferente pras coisas - é a diferença pela diferença. É o ego das coisas. As coisas também querem ser diferentes. Elas também são bobas.
Para o sujeito demasiadamente contemporâneo essa direção de vida chama-se derrota. Na contemporaneidade, uma vida sem abundância de rótulos no dia-a-dia é uma vida que não vale a pena ser vivida, é a vida de um perdedor - Loser. Mas quem perde mesmo é o sujeito contemporâneo que reduz sua VIDA a dias, e os DIAS a acontecimentos, e os ACONTECIMENTOS a rótulos que nem de perto descrevem suas complexidades.
Pois eu lhes digo: esse 1 minuto de suspiro e lágrima foi provavelmente o momento mais simples e vazio do meu dia. Foi o único momento com foco. Eu sabia o porquê do suspiro e o porquê da lágrima.
Nos outros momentos tudo era tão complexo... eu respirava, sem saber o porquê; meu cérebro evocava pensamentos aparentemente sem conexão; minhas vísceras funcionavam à própria revelia; meus sentidos captavam estímulos tão complexos que eu jamais poderia colocar em palavras, tudo assim ao mesmo tempo, coordenados eu nem sei como, pura mágica.
E ainda assim, decidi resumir meu dia - e meu post - pelo seu momento mais tolo e mais simples.
É que tolo e simples sou eu.