Espanto para muitos me verem em blocos de carnaval. Me perguntam "Mas você não disse que não gostava de carnaval?" e a resposta continua a mesma: "Não gosto". Mas, melhor do que passar 5 dias com calor, em casa, sozinho, é passar 5 dias com calor acompanhado.
No entanto, apesar do prazer de ver os amigos e das divertidíssimas fantasias, a música dessa festividade me é extremamente incômoda.
Não gosto do som de coisa velha. Não gosto de idéias velhas. Não gosto de mentes fossilizadas numa idolatria ao passado - e é isso tudo que eu vejo no carnaval do Rio de Janeiro.
Quando será que vão parar de se indagar sobre a cabeleira do Zezé e entender que ele devia ser bicha mesmo e que ninguém liga mais? Será que ninguém lembra que hoje também os homens tem cabelo comprido e isso não significa nada relativo à sexualidade deles? Até quando vão pedir mamá pra mamãe? Será que ninguém cresce e sai desse ÉDIPO mal-resolvido? E a pobre da Maria que é sapatão e de noite é João. Who gives a fuck?
A questão é que repetir mantras de um passado em que todas essas questões eram ironizadas - por serem transgressoras e polêmicas na época - talvez represente que nas cabeças das pessoas de hoje a realidade é a mesma de antigamente e ainda existe a homofobia arraigada no pensamento brasileiro. Ou será possível separar significante e significado quando se canta?
Eu não consigo. Pode ser inabilidade ou chatice minha. Mas ao ouvir coros e multidões cantando que o zezé é bicha, que a maria é sapatão e que todos querem mamar na mamãe, não posso evitar ficar um pouco enojado com o mar de significantes-significados grosso, velho e poluente como petróleo em que as pessoas vivem.
Ainda vivemos numa sociedade antiquada, com valores de outrora e um machismo periclitante e alarmante que passa entre homens e mulheres - e desses para seus filhos - de maneira automática e imperceptível - para eles.
Enquanto isso durar, eu posso continuar saindo e encontrando meus amigos no Carnaval. Porém, ao me perguntarem se eu gosto dessa festa a resposta continuará sendo curta e grossa - NÃO.
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Há 11 anos