domingo, 22 de fevereiro de 2009

Ainda a cabeleira do Zezé? Jura?

Espanto para muitos me verem em blocos de carnaval. Me perguntam "Mas você não disse que não gostava de carnaval?" e a resposta continua a mesma: "Não gosto". Mas, melhor do que passar 5 dias com calor, em casa, sozinho, é passar 5 dias com calor acompanhado.
No entanto, apesar do prazer de ver os amigos e das divertidíssimas fantasias, a música dessa festividade me é extremamente incômoda.
Não gosto do som de coisa velha. Não gosto de idéias velhas. Não gosto de mentes fossilizadas numa idolatria ao passado - e é isso tudo que eu vejo no carnaval do Rio de Janeiro.
Quando será que vão parar de se indagar sobre a cabeleira do Zezé e entender que ele devia ser bicha mesmo e que ninguém liga mais? Será que ninguém lembra que hoje também os homens tem cabelo comprido e isso não significa nada relativo à sexualidade deles? Até quando vão pedir mamá pra mamãe? Será que ninguém cresce e sai desse ÉDIPO mal-resolvido? E a pobre da Maria que é sapatão e de noite é João. Who gives a fuck?
A questão é que repetir mantras de um passado em que todas essas questões eram ironizadas - por serem transgressoras e polêmicas na época - talvez represente que nas cabeças das pessoas de hoje a realidade é a mesma de antigamente e ainda existe a homofobia arraigada no pensamento brasileiro. Ou será possível separar significante e significado quando se canta?
Eu não consigo. Pode ser inabilidade ou chatice minha. Mas ao ouvir coros e multidões cantando que o zezé é bicha, que a maria é sapatão e que todos querem mamar na mamãe, não posso evitar ficar um pouco enojado com o mar de significantes-significados grosso, velho e poluente como petróleo em que as pessoas vivem.
Ainda vivemos numa sociedade antiquada, com valores de outrora e um machismo periclitante e alarmante que passa entre homens e mulheres - e desses para seus filhos - de maneira automática e imperceptível - para eles.
Enquanto isso durar, eu posso continuar saindo e encontrando meus amigos no Carnaval. Porém, ao me perguntarem se eu gosto dessa festa a resposta continuará sendo curta e grossa - NÃO.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Bananas is my business


Sucesso é possível, mas nunca satisfatório.
Hoje, Carmen Miranda completaria 100 anos.
Um link para uma breve biografia:
http://br.noticias.yahoo.com/s/09022009/40/entretenimento-carmen-miranda-fragil-mulher-escondida.html

Casou-se com o único homem que lhe pediu em casamento, alguém envolvido com o show business. Para os outros homens Carmen era demasiadamente exótica, um personagem exageradamente irreal para ser mulher - só podia ser Carmen.
Condenada ao limbo de sua personagem, não era portuguesa (sua terra natal), não era brasileira e tampouco americana.
Fez progressos incríveis no inglês, mas teve que manter o sotaque para poder continuar vendendo sua personagem.
Tentou pedir outros papéis, mas só lhe concederam 1 papel diferente, num filme em que ela também tinha que interpretar sua velha máscara.
Morreu aos 46 anos, dependente de anfetaminas e soníferos, infeliz.

Lembro de muitos outros exemplos. Marilyn Monroe era outra que vendia uma imagem de sedução, exuberância e sexualidade. Entretanto, no fundo, ela era absolutamente carente e queria desesperadamente alguma segurança emocional.

Não consigo evitar pensar no porquê de alguém - marilyns ou carmens - sujeitarem-se a serem tela em branco para as projeções de desejos da massa, sua necessidade de mitos. Que necessidade é essa de serem vistas como exuberantes, leves e felizes quando a realidade era o oposto? Será que não havia a possibilidade de serem aplaudidas pelo caos, drama e complexidade que eram? Nem todas as mulheres de Hollywood eram doces como Marilyn, nem exóticas e explosivas como Carmen.
Talvez hoje em dias as coisas tenham mudado UM POUCO. Temos Toris, Fionas, Björks, Shirleys, Beths - todas cantando as inglórias e infortúnios de serem quem são. E sendo aplaudidas e amadas por isso.
E todas elas tem um pedacinho de carmen e marilyn. Não poderia ser diferente.

Mas Carmen... da próxima vez que tal usar um chapéu com suas mil lágrimas?