sexta-feira, 24 de abril de 2009

el cielo

o céu me mantém atento

pintura expressionista

captada em versão 'amostra grátis' apenas pelas lentes das melhores câmeras

apreciada apenas pelas lentes dos melhores olhos

por trás dos meus olhos - eu, repleto do elemento ar - me sinto parte dele

e me encontro cada vez que sou surpreendido pela sua presença

não o vemos muito nas metrópoles

sempre escondido atrás dos arranha-céus, dos luminosos e cabeças de pessoas

e esquecido, por termos de vigiar o chão e evitar suas sujeiras

às vezes lembro de olhar para o alto e lá está ele

reconfortante

surpreendentemente sempre lá, sempre limpo e sempre reconhecível

ele que é a porta de entrada para o infinito

o infinito que sempre me levou longe

sempre carregando meus pensamentos avante

num loop, dia, noite, dia, noite, dia...

fazendo com que eu me sinta do meu tamanho: minúsculo

colocando todas as coisas em perspectiva

quando comparadas à sua grandiosidade

ora e outra se mostrando com cores fugazes que eu esqueço serem céu

e lá vou eu, em busca de mais céu

e fico na minha janela a observá-lo

e me espanto com a sua grandeza

porque ainda que eu o veja quadrado

eu o sei infinito.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Aviões de guerra divertidos


"Eu não quero criar conflito, eu não quero re-editar o passado, eu só quero libertação" é o que os B-52's dizem em uma de suas músicas novas - "Eyes wide open".
A primeira coisa que me chamou atenção no show foi o fato de eles terem mais de 50 anos de idade. Talvez estejam beirando os 60 (não fiz minha pesquisa ainda). Mas achei muito legal que aos 50 e muitos anos eles ainda estejam fazendo o que gostam e criando coisas novas ao invés de só viverem do passado. Eles tampouco tocaram seu maior hit - "Legal Tender" - talvez uma recusa total a surfar nessa onda que vem desde o início dos anos 80. Enfim, bom ver que mesmo na contemporaneidade a vida e a carreira no showbiz não terminam aos 40. Ainda assim eu ri muito quando um amigo que também estava no show disse que Kate - a ruiva - era mãe de Geri, a ginger spice, e que Cindy Wilson - a loira- a mãe de Emma, baby spice. Piadinha boa.
A segunda coisa que pulou aos meus olhos, quase que literalmente, foi a iluminação do show: a platéia era muito frequentemente iluminada, quase como se dissessem que também éramos parte do espetáculo. Um gesto talvez imperceptível para a maioria, mas com um efeito psicológico certo. Doía um pouco os olhos aquela iluminação repentina e nos destacava de uma maneira um tanto desconfortável - nós que estávamos lá mais para ver do que para sermos vistos. Mas realmente dava a impressão de que estávamos todos juntos ali - banda e público e que a festa era de todos. Em vários momentos realmente parecia uma banda animadora de festas.
Em terceiro lugar saímos - eu e minha irmã/karma - muito felizinhos do show. E não perguntei a ela, mas em mim o show ficou ecoando até agora. E eu não consegui parar de ouvir o Funplex. E mesmo saindo um pouco decepcionado, como todos, por não ter ouvido Legal Tender, acho que todo artista tem o direito de enterrar suas criações passadas e dar lugar a coisas novas. Como viver da mesma máscara quase 30 anos depois?
Cut us some slack.

Recomendo:
"Juliet of Spirits" - uma música que soa conhecida. Eu jurava que era das antigas, no show, mas é do último álbum, Funplex. A faixa é absolutely timeless. Incrível. Super chiclete.
"Eyes Wide Open" - citada no início do post deixa muito claro que eles não estão aqui para viver do passado
"Ultraviolet" - there's a rest-stop, let's hit the g-spot - LOVIN' IT! LOVIN' IT!

terça-feira, 7 de abril de 2009

estupor catatônico

em geral estou imbuído de uma sensação de "dever fazer" e faço tudo aquilo que acho que devo.

não sei como gastar o dinheiro pelo qual tanto trabalhei e me queixo de tanto trabalhar e não ter tempo livre.

quando tenho tempo livre minha garganta se dói e daí eu reclamo que não posso reclamar.

cantar e libertar então - quimera.

se eu não canto nem me divirto, então porque não trabalhar?

viajar então... que realidade longínqua.

quantos pedaços eu teria que reunir para poder dizer que sou EU que estou indo e não uma porção de fragmentos errantes?

às vezes parece que só meus olhos querem ir... acompanhados de pernas para andar.

se bem que rolando eles teriam uma visão mais interessante.

pena que há toda a sujeira e a poeira e meus olhos são muito sensíveis.

eu mesmo quero apenas me enroscar nos braços de qualquer coisa que me ame.

minha cama.

meu vazio.

quanta ternura.

liberdade para viver um estupor catatônico - será esse meu mito individual?

abuso e arrisco.

talvez seja isso mesmo.

como minha irmã/karma disse: "Prisões, para sermos todos livres"

domingo, 5 de abril de 2009

- desejo -

Nos olhos o desejo
perfura e machuca
Tanta voracidade só pode me ter como um alvo atropelado no meio de uma rota desgovernada
Não quero estar no meio do caminho
Do desejo que sai de qualquer coisa
E vai para lugar qualquer
Seria eu uma máscara sem rosto?
Ou um depositário de desejo errante?
Esquivo-me, quando na verdade queria me entregar pleno
Não é você
É só a sua abordagem que é igual à minha quando estou desgovernado
Sem ser soberano de mim mesmo
Des-coroado
Desconsagrado
Aviltado
Por mim mesmo, obviamente, e pela errância dos desejos meu e seus
Não agüentaria mais isso, não fosse a impossibilidade de me retirar do campo
Permaneço alvo de flechas perdidas
Lançadas por arqueiros que – como eu, ou pior que eu – não sabem o que fazem
E matam.
E morrem.